Armazém 6

domingo, julho 24, 2005

Os sobreviventes do tsunami andam bem calçados

Pela altura da tragédia do tsunami, todos andávamos pensativos, bombardeados com imagens televisivas de cadáveres inchados e cinzentos. Houve também histórias maravilhosas de mães que encontraram os filhos, de um rapazinho que se salvou com uma camisa da selecção nacional vestida.
Durante semanas, os telejornais nacionais ocupavam o seu espaço com entrevistas a quem por lá passou ou, pelo menos, que conhecesse alguém que pela tragédia tivesse passado.
Logo no dia seguinte à tragédia, 27 de Dezembro, havia já uma conta bancária, que passava insistentemente em rodapé nas televisões, para quem quisesse ajudar as vítimas, aliás, os sobreviventes. Milhares de pessoas se dispuseram a ajudar os pobres desgraçados que tanto mal nos faziam sentir à hora do jantar na televisão.
Pediu-se ajuda a todos. Comida, roupas, água potável, enfim, bens de primeiríssima necessidade. Todos queriam colaborar. A situação era, de facto, chocante.
O Armazém 6 não fugiu à regra...
Uma "armazenada" chegou uma manhã e, orgulhosa, declarou que também ela já tinha dado o seu contributo às vítimas do tsunami, nomeadamente às vítimas da Tailândia.
Tinha enviado, através da paróquia da sua freguesia, um par de sapatos de salto alto, salto agulha...
Saltitava, contente pela sua colaboração e apregoava a sua generosidade para com as pobres vítimas. Sentia-se bem e sonhava ainda com algo:
- Já imaginaram pessoal? Imagina eu estar a ver o telejornal e de repente, ver alguém com os meus sapatos calçados. Era o máximo!! Bué da fixe! Punha-me logo aos gritos: Olha! Olha! os meus sapatos na televisão!!! Espectáculo!!
Bom, parece-me que tudo pode ter a sua utilidade neste mundo (que lamacento ele é na Tailândia!).
Imagine-se, por exemplo, as prostitutas da Tailândia, desalojadas, sem as suas roupas de lantejolas, apenas com trapos para vestir, sem maquilhagem.
Sem clientela...
Ora, se alguém porventura quiser pagar a uma prostituta nesta situação, escolherá, decerto, a mais bem calçada!...
Aquele donativo dos sapatos de salto alto demonstrava uma larga visão que Bruaca não se apercebera à primeira.