Armazém 6

terça-feira, setembro 06, 2005

O homem do Smart

No Armazém 6, são utilizados muitos computadores.
Na realidade apenas o teclado numérico é utilizado e a aplicação onde trabalhamos que é da autoria de Patrão Bigodes.
Muitas vezes, os computadores, que são velhos e pouco actualizados, precisam da assistência técnica de alguém competente para o fazer.
Esse alguém é o Louro...
O Louro...
Ai o Louro...
O Louro Aparece quando menos se espera. Apenas Cabeça de Fósforo o pode chamar e não antes de ela própria ter verificado o funcionamento do pc em questão. Coça a cabeça e diz:
"É assim, faz o restart. E depois é assim, se não der logo se vê..."
Cabeça de Fósforo insiste em achar que todos os problemas se podem resolver com um simples "restart" do computador. Chegou uma vez a dizer:
"É assim, faz o restart. É assim, se não der faz-se o restart amanhã e depois é assim, se não der logo se vê..."
Mas, o restart não resolve os problemas e ela chama o Louro.
Não avisa a ninguém que o fez e, portanto, ele pode chegar a qualquer momento.
Chega num automóvel Smart azul, baixinho e aerodinâmico, com grande alarido e chiar de pneus aí vem ele.
Entra pela porta do Armazém 6, caminha segurissímo de si, com a chave do Smart pendurada ao pescoço, numa daquelas fitinhas que se usam. Avança de peito inchado, cabeça levantada, dirige-se a Cabeça de Fósforo e nem diz " Boa Tarde".
O Louro é também porteiro numa discoteca da moda em Lisboa, pratica frenéticamente os músculos suando nos caros ginásios da capital e presume que as "armazenadas" se embeiçam por ele, chegando estas ao ponto de apagar programas do computador para poderem ter esperança que um dia destes o Louro entrará pela porta adentro, com a chave do Smart balouçando no seu peito musculado.
Não se engana muito.
Houve em tempos uma "armazenada" que ficou apaixonada por ele.
Nunca lhe tinha falado nem o Louro alguma vez tinha reparado nela, até porque essa "armazenada" era um pouco gordinha, mas muito simpática.
Quando o Louro se sentava à frente do computador, ela simulava idas à casa-de-banho ou à copa apenas para poder passar por perto e "snifar" um pouco do seu perfume intenso. Ficava nas nuvens. Corava muito e fugia a correr no meio de risinhos incontrolavéis.
Certo dia, Cabeça de Fósforo não estava e a "armazenada" resolveu tomar uma atitude.
Foi às gavetas de Cabeça de Fósforo, e consegui descobrir o número de telemóvel do Louro.
Durante o resto do dia, andava desorientada com o telefone na mão e dizia: "telefono ou não? telefono ou não? telefono ou não?"
No dia seguinte resolveu mandar uma sms ao Louro que dizia: "Smart azul?"
A resposta foi: "Sim, é lindo não é? mas quem és tu?"
"Não tão lindo como tu..." atreveu-se a responder
Não trabalhava, e não sacava um único agrafo enquanto ele não lhe respondesse, pois as mãos estavam apenas ocupadas com uma única coisa: o telefone.
O Louro ia sustentando a conversa que lhe enchia o ego, e falavam da potência do carro e da bela compleição física daquele, obtida à custa de muitos esteróides .
Mas um dia o Louro lá se deve ter fartado de não saber com quem estava a falar e aos poucos, foi espaçando cada vez mais as mensagens. Ele queria saber com quem estava a falar, e ameaçava acabar com a conversa enquanto não soubesse.
A "armazenada" estava em pânico. O que fazer?
"Não posso perdê-lo"
"Vou ter que lhe dizer quem sou, quero marcar um encontro com ele"
"Se calhar vou à discoteca onde trabalha, como quem não quer a coisa..."
A "armazenada" andava confusa e desorientada.
Era preciso resolver o problema.
Então ficou acordado entre eles que ele iria jantar com ela no dia em que ela lhe dissesse quem era.
A "armazenada" encheu-se mesmo de coragem e mandou a seguinte sms:
"Armazém 6"
O louro respondeu então que passaria por lá às 18:00 h para a ir buscar.
A "armazenada" nesse dia passou todo o tempo na casa-de-banho...
À hora combinada, o Louro telefonou a perguntar qual das "armazenadas" ela era.
A "armazenada" respondeu: "Sou aquela loura um pouco gordinha, então e já aí estás fora à minha espera?"
Mas o pior foi quando o Louro disse:
"Foda-se!!!! Não xavala!!! É pá desculpa lá mas eu pensava que eras aquela magrinha de cabelo comprido, olha minha: Caga nisso, ok?" e desligou.
A "armazenada" ficou arrasada, chorou e disse que se ia despedir, nunca mais poderia olhar para a cara daquele louro que andava de Smart azul.
Enquanto o resto das "armazenadas" em bom companheirismo feminino, tentavam consolá-la, dizendo que ele não a merecia que era um porco etc... O telefone voltou a tocar.
Era ele de novo.
"Eh pá desculpa lá, mas não tens o telefone da tua amiga daí? aquela magrinha de cabelo comprido?"
A "armazenada" desligou o telefone.
A magrinha de cabelo comprido era Surucucu.
A "armazenada" ao fim de 2 semanas abandonou o Armazém 6 e nunca mais a vi.