Armazém 6

sexta-feira, agosto 19, 2005

Personagens - Idália

A Idália é a primeira a ser apresentada do lado de cá.
É a coordenadora deste lado mas deve explicações ao lado delas.
Do lado de cá existem quatro tipos de tarefas diferentes que se podem fazer.
Cada um dos "armazenados" faz uma tarefa da parte da manhã e outra da parte da tarde, nunca repete a mesma tarefa durante todo o dia.
Uma das funções da Idália é fazer a distribuição dessas tarefas. Fá-lo, portanto, duas vezes por dia.
As tarefas são: Tirar agrafos, passar folhas, contar folhas ou teclar no computador.
"Tu! Vai sacar agrafos!, tu teclas, tu passas as folhas e tu côntazías!"
Muitas vezes, esta distribuição não é necessária pois cada um de nós já sabe onde vai parar e, voluntariamente se coloca no seu posto de trabalho para as próximas 4 horas.
No entanto, a Idália com cada vez mais frequência pode dizer:
"Façam o que entenderem!" Vira as costas, vai para um computador investigar, mastiga pastilha elástica freneticamente, cantarola nervosamente e ai de quem lhe perguntar seja o que for.
Idália namora com o talhante. Este talhante foi casado e tem uma filha. A ex-mulher do talhante parece que não é muito equilibrada e manda sistematicamente mensagens escritas para o telemóvel da Idália, lançando maus-olhados e desejando que esta morresse.
Em resumo: odeiam-se.
O talhante não reage perante esta situação e mantém contacto frequente com a ex-mulher, até porque têm uma filha em comum.
Idália recusa aceitar que o talhante continue a falar com a louca da ex-mulher e confrontou-o com a situação.
O talhante prometeu-lhe então que apenas falaria com a ex-mulher em casos estritamente necessários.
Mas a Idália nunca quis acreditar e pensou num plano.
A melhor maneira de controlar seria poder ter acesso às chamadas de telemóvel feitas por ele, a que horas, durante quanto tempo e para quem.
Empenhou-se então em descobrir qual a palavra-passe dele na factura detalhada disponível online no portal da operadora.
Não é tarefa fácil descobrir a palavra-passe de alguém, mesmo que se conheça muito bem a pessoa em questão. Mas o empenho foi grande, ao descobrir a palavra Idália poderia saber, finalmente, se o talhante lhe mente ou não.
Tentou primeiro o seu nome. Nada.
Depois o nome dele. Sem êxito.
O nome do hotel onde dormiram juntos pela primeira vez. Népia.
O problema estava difícil de resolver para Idália. Nunca o talhante poderia ter uma palavra passe que não a incluísse a ela de algum modo, directo ou indirecto. Ainda pensou no nome da filha dele, apesar de tudo é sempre algo de importante na vida dele, mas nada parecia fazer abrir a irritante janelinha do login da operadora de telemóveis.
Era um caso quase impossível de resolver.
Idália esteve quase para desistir.
Na realidade, praticamente que desistiu.
Todas as manhãs, via-a, mastigando a sua pastilha, desesperada, tentando mais uma ou outra palavra. Sempre que lhe ocorria algo, ia correndo para um computador dísponivel, tentá-la.
Passaram-se semanas...
Até que um dia...
Cabeça de Fósforo teve um papel importantíssimo na vida de Idália, chegou eufórica com um cachecol colorido e colocou-o em cima do monitor do computador.
Idália olhou, pensou, correu para o computador mais próximo e escreveu:
"Sporting".
Desde esse dia que no Armazém 6, sempre que o talhante telefona à ex-mulher, todos os "armazenados" do lado de cá vivem momentos de verdadeiro stress psicológico. Idália oprime com o seu sofrimento, que se transforma em ordens disparatadas, respostas ríspidas, cantarolares permanentes e milhões e milhões e milhões de batidas de maxilar em pastilha elástica.