Armazém 6

quinta-feira, outubro 04, 2007

Não há almoços de graça

Depois desta esmagadora notícia no Armazém 6, tudo mudou.
As armazenadas já não eram as mesmas de outrora. Chegavam pontuais de manhã, saíam pontuais à tarde. Nunca mais vi uma que fosse trabalhar de chinela de plástico do MacDonalds (coisa que foi hábito durante muito tempo). Trabalhava-se em silêncio e as mais intriguistas só exerciam a actividade frenética de dizer mal dos outros durante os intervalos (antes era a toda a hora, no meio dos "clip-cleps" do saca-agrafes). Aliás, esta importante actividade, que sempre esteve presente no Armazém 6, era agora de uma monstruosidade hérculea! Nas casa-de-banho surpreendia pares e trios de armazenadas, que imediatamente se calavam e se metiam em movimento quando alguém não inserido no "grupo delas" entrava por acaso. Depois das 6 da tarde, algumas atrasavam-se de propósito para poder exercer a sua actividade sem risco de serem ouvidas.
Uma vez, duas das armazenadas chegaram ao extremo de comunicar que não iriam trabalhar em determinada tarde. O objectivo era poderem ter tempo suficiente para a "actividade".
Bem, somos livres de falar e de faltar ao trabalho, é certo. A questão é que o ponto de encontro das duas "armazenadas" foi precisamente ali! No armazém do lado, o número 7, onde trabalhava um velho zarolho que sempre ficava feliz com a companhia de "malta jovem e fixe".
O problema estava grave e profundamente instalado nas vidas de todas as "armazenadas".
- Quem é que vai ser despedido?
- Quem é que vai ficar na merda?- perguntavam ansiosas mas, ao mesmo tempo, com um sorriso sádico no rosto.
A estratégia era parecer o mais ocupadas possível no armazém 6, dar graxa a Cabeça de Fósforo e Sapo Atropelado (talvez elas dessem uma "palavrinha" a Patrão Bigodes em seu favor) e sobretudo, o mais esgotante, era fazer parecer que todas as "armazenadas" não eram dignas de tirar agrafes, à excepção delas próprias.
- Quem é que não puxou o autoclismo? É sempre a mesma merda! Como é que querem arranjar trabalho se não são capazes de ter higiene?
- Estas gajas devem pensar que num trabalho a sério podem faltar para ir ao médico! - diziam acerca de uma que estava grávida e tinha ido fazer uma ecografia.
- Não sei como é que o Patrão bigodes pode ter gente com piercings a trabalhar para ele! A culpa desta merda toda é dele! Sim! Todinha!
- Hoje à noite vou cozinhar mãos de vaca, ó Sapo Atropelado, amanhã não tragas almoço, comes do meu. - diziam isto em alto tom de voz para que todos ouvissem e, depois acrescentavam para o auditório do armazém - Sim! As minhas mãos de vaca não são para quem quer! É para quem merece!

E assim se passaram dois meses.

Por altura do Natal, chegou ao Armazém 6 uma nova equipa de trabalho da empresa "bué da cara e bué da organizada" que vinha substituir a pequena e familiar de Patrão Bigodes. Deviam colaborar com Sapo Atropelado e Cabeça de Fósforo ao mesmo tempo que serviam de seus supervisores e dos novos sacadores-de-agrafes, frescos e motivados.
Mas nem tudo correu bem para as duas seniores...

Não perca o próximo episódio...